Dra. Karine Cunha

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a esquizofrenia afeta mais de 21 milhões de indivíduos no mundo. Já o consumo problemático de drogas alcança a marca de 27 milhões de pessoas, de acordo com o Relatório Mundial sobre Drogas. Nesse contexto, os números revelam a importância dos estudos relacionados às drogas e à esquizofrenia.

Pensando nisso, preparamos um artigo que trata da relação entre esses dois temas. Então, continue a leitura e saiba mais!

A esquizofrenia

A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas relacionados à Saúde (CID-10) define a esquizofrenia como um distúrbio psiquiátrico caracterizado por distorções da percepção e do pensamento, bem como pela presença de afetos inadequados ou distanciados.

Entre os fenômenos recorrentes estão a percepção e as ideias delirantes, as vozes alucinatórias, o eco e a fuga do pensamento e o discurso desorganizado. Vivências corporais alteradas também são verificadas.

Ainda não há consenso quanto à causa da esquizofrenia, mas diversos estudos vêm sendo realizados a fim de esclarecer a complexidade do quadro. Sabe-se que os sintomas podem ser negativos ou positivos e que a ocorrência é diminuída após os 50 anos e antes da puberdade.

O diagnóstico deve ser realizado por um especialista, e alguns sintomas recorrentes são similares àqueles encontrados em situação de abstinência ou uso de drogas. Existem diferentes tipos de esquizofrenia (paranoide, indiferenciada, catatônica, simples, etc.) e cada uma delas possui especificidades.

A esquizofrenia e as drogas ilícitas

O abuso de drogas aumenta a probabilidade de esquizofrenia? De acordo com um estudo desenvolvido por pesquisadores do Hospital Universitário de Copenhague, sob a orientação de Stine Mai Nielsen, pode-se dizer que há sim uma relação entre o uso de drogas e a ocorrência da esquizofrenia.

A pesquisa analisou uma ampla quantidade de casos (3.133.968 registros de cidadãos dinamarqueses) e levou em consideração diversos dados, tais como histórico de abuso de substâncias ilícitas, diagnósticos de esquizofrenia, histórico médico, situação econômica, sexo, dentre outros.

O estudo apresentado na International Early Psychosis Association (IEPA) revela que o abuso de substâncias psicoativas, como maconha, anfetaminas, álcool e outras drogas alucinógenas, pode aumentar consideravelmente a incidência do transtorno. Entre os dados, podemos destacar:

  • maconha — 5,2 vezes;
  • álcool — 3,4 vezes;
  • alucinógenos — 1,9 vezes;
  • sedativos — 1,7 vezes;
  • anfetaminas — 1,28 vezes;
  • outras substâncias — 2,8 vezes.

A esquizofrenia é um fenômeno complexo, e os pesquisadores alertam que é impossível afirmar que o abuso é responsável pelo desencadeamento da doença, ou ainda, que a ocorrência da esquizofrenia ocasionou o abuso.

Entre as hipóteses discutidas, aceita-se a possibilidade de que um indivíduo predisposto à esquizofrenia também o seja para o uso de drogas. Pode-se também pensar que algumas pessoas são mais suscetíveis tanto ao abuso quanto ao transtorno.

A pesquisa verificou ainda a influência do consumo de maconha e álcool pelos pais (antes e depois do parto), concluindo que o uso abusivo de maconha pelas mães pode aumentar em até 6 vezes o perigo de ocorrência de esquizofrenia nos filhos, enquanto o risco é de 5,5 vezes se o homem for o usuário.

Em relação ao consumo de álcool pelas mães antes do parto, observou-se que a possibilidade do transtorno cresceu 5,6 vezes e que o número reduziu-se pela metade quando a ingestão de bebidas foi posterior ao nascimento da criança.

A esquizofrenia e o uso de álcool

Como mostra o mesmo estudo, além de aumentar a probabilidade de desencadeamento, o consumo excessivo de álcool favorece a ocorrência de problemas como hipertensão, diabetes, cirrose hepática, entre outros.

Sabe-se também que o consumo de bebidas alcoólicas dificulta a remissão dos sintomas e a adesão ao tratamento. Nesse sentido, desaconselha-se o uso de substâncias psicoativas que não façam parte do tratamento, uma vez que elas podem agravar o quadro, aumentar as situações de risco para portadores do sofrimento, configurar-se como um dificultador do tratamento e causar outras consequências adversas à saúde.

Além disso, pode ser que o abuso de álcool seja utilizado pelo esquizofrênico como um método paralelo e autônomo de tratamento, o que certamente é ineficaz.

Agora que você já entende mais sobre a relação entre as drogas e a esquizofrenia, aproveite que está por aqui e saiba como escolher um psiquiatra de confiança!

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